O Plano Ferrovia 2020, lançado em
fevereiro de 2016, previa um investimento de 2,7 mil milhões de euros na rede
ferroviária portuguesa e obras em cerca de 1200 km de via. Tendo em atenção
esta aposta do governo e a oportunidade de desenvolver uma linha Atlântica que
servisse toda a região, a Assembleia Municipal de Loures promoveu, no dia 25 do
mesmo mês, uma reunião onde estiveram presentes quase todos os autarcas da
região, deputados e elementos das Assembleias Municipais, desde Lisboa à
Figueira da Foz. Todos foram unanimes em considerar a regeneração da linha do
Oeste como fundamental no desenvolvimento da região, dado ser um meio de
transporte mais rápido, económico, menos poluente e onde vivem cerca de milhão
e meio de pessoas, ou seja, 10% da população portuguesa.
Dado ser vital para a região esta
ferrovia, a Assembleia da República aprovou, no passado dia 20 de setembro de
2017, uma resolução que “recomendava ao governo que procedesse com urgência à
requalificação integral da linha do Oeste (Sintra – Figueira da Foz), constituindo
esta linha como uma alternativa eficaz à utilização de veículo automóvel para a
acessibilidade ao litoral Oeste, permitindo-lhe cumprir a sua vocação
estruturante e estratégica para o país e a região, mesmo que tal seja assegurado
através da sua repartição por duas fases de investimentos”.
Tanto o Plano previsto como esta
resolução são contraditórias com que se passa no terreno. Dos 528 km de
ferrovia previstos no Plano Ferrovia 2020 a serem realizados até 2017, apenas
executaram 79, isto é, apenas 15% das obras inicialmente previstas, entre elas
o troço Meleças – Caldas da Rainha, com conclusão prevista para 2020.
Foi com algum espanto que li, neste jornal,
no passado dia 22 de fevereiro, o artigo do deputado João Paulo Pedrosa onde
realçava, como um grande feito, um investimento de 100 milhões de euros na
eletrificação da linha do Oeste, esquecendo-se de referir que a obra era
comparticipada em 74 milhões pela União Europeia. Este remendo em nada
beneficia a Marinha Grande nem os seus utilizadores. A viagem entre Caldas da
Rainha e Lisboa e vice-versa ficará, após esta benfeitoria, em 1 hora e 30
minutos, apenas menos 8 minutos do que já se fazia nos anos 80, enquanto a Rede
Expressos realiza o mesmo trajeto em 1 hora e 10 minutos. O abandono e o quase
assumir que esta linha está condenada a ser desativada é evidente na supressão
de comboios que se tem verificado. A CP já suprimiu 623 comboios nesta linha,
ou seja, quase não existem estações ou apeadeiros ativos que valha a pena ter
comboios a servi-las. Não é por acaso que hoje somos o único país da Europa
onde o número de quilómetros de autoestradas ultrapassa o número de quilómetros
de linhas férreas. Aliás, dos autarcas presentes na reunião de Loures NINGUÉM
defendeu a eletrificação da linha Lisboa - Caldas.
Hoje, tal como em 2016, o +Concelho
defende, não uma linha Oeste, mas uma linha Atlântica Lisboa – Aveiro, e
Figueira da Foz – Coimbra com cruzamento em Moinho de Almoxarife, apontando
como elemento nuclear, a meio do percurso, o aeroporto de Monte Real. Esta
variante traria imensas potencialidades como fator de desenvolvimento económico
e social da região Oeste, bem como um troço ferroviário alternativo à linha do
Norte, neste momento bastante saturada, como é evidente nos acidentes que aí se
têm verificado ultimamente. Este desenvolvimento seria transversal a todos os
concelhos, quer a norte, quer a sul de Caldas da Rainha. Seria uma linha com
retificação em algum do seu trajeto e a construção de um novo entre Moinho de
Almoxarife e Coimbra, possibilitando, assim, a viagem do aeroporto de Monte
Real - Lisboa em pouco mais de uma hora e, ao Porto, um pouco mais, potenciando
a localização do futuro aeroporto do Centro.
Perante esta falta de aposta na
ferrovia perde-se uma oportunidade única de contribuir para um maior
desenvolvimento do eixo turístico Figueira da Foz – Coimbra, a zona portuária
entre Figueira da Foz – Aveiro, turismo religioso – Fátima, Alcobaça e Batalha,
turismo praias do litoral, interfaces de mercadorias em setores líderes do PIB
Nacional (pasta de papel, vidros, cimentos, rações e produção agrícola).
O Plano Ferrovia 2020 que este governo
anunciou com algum entusiasmo não passou do papel e de boas intenções. Estamos
em 2018 e pouco ou nada se fez para atingir o objetivo definido. Poderíamos
dizer que era por uma questão de milhões. Atrevo-me a dizer que é uma questão
de prioridades. Milhões é o que não tem faltado para tapar o buraco de muitos
bancos, nomeadamente BPN e Novo Banco. Só neste banco, em 2018, serão precisos
mais 870 milhões de euros para não ir à falência. Em 2017, teve prejuízos de
mil milhões de euros e, até final, se tudo correr bem, o estado português, ou seja,
do bolso de todos nós, serão injetados mais 10 mil milhões de euros.
Se dúvidas houvesse, não será por
causa de milhões que o investimento não se faz. É, essencialmente, devido a uma
opção política: financiar os bancos em detrimento de fazer infraestruturas
dignas de um futuro mais promissor para as gerações seguintes. É também por
falta de inércia e falta de visão desta autarquia que tudo nos vai passando ao
lado. Por exemplo, uma Moção aprovada na Assembleia Municipal da Marinha Grande
no dia 26 de fevereiro de 2016 recomendava à autarquia que “desenvolvesse todos
os esforços junto do governo central no sentido de que a linha do Oeste fosse,
a par das ligações ferroviárias internacionais, uma prioridade do investimento
ferroviário”, recomendação que nunca foi seguida. Assumiu, ainda, a realização,
até final de 2016, de uma grande reunião magna no nosso concelho com todos os
defensores da linha do Oeste, deputados municipais, executivos camarários e especialistas
da área que NUNCA se realizou. Prioridades e definição de um Plano estratégico
para o Concelho é algo que este Executivo já mostrou não saber do que se trata.
Elvira Ferreira
JMG 23 março 2018